Avestruz
Mário
Prata
O
filho de uma grande amiga pediu, de presente pelos seus dez anos, um avestruz. Cismou, fazer o quê? Moram em um apartamento
em Higienópolis, São Paulo. E ela me mandou um e-mail dizendo que a culpa era minha.
Sim, porque foi aqui ao lado de casa, em Floripa, que o menino conheceu os
avestruzes. Tem uma plantação, digo, criação deles. Aquilo impressionou o
garoto.
Culpado,
fui até o local saber se eles vendiam filhotes de avestruz. E se entregavam em
domicílio.
E
fiquei a observar a ave. Se é que podemos chamar aquilo de ave. O avestruz foi
um erro da natureza, minha amiga. Na hora de criar o avestruz, Deus devia estar
muito cansado e cometeu alguns erros. Deve ter criado primeiro o corpo, que se
assemelha, em tamanho, a um boi. Sabe quanto pesa um avestruz? Entre 100 e 160
quilos, fui logo avisando a minha amiga. E a altura pode chegar a quase três
metros. 2,70 para ser mais exato.
Mas
eu estava falando da sua criação por Deus. Colocou um pescoço que não tem
absolutamente nada a ver com o corpo. Não devia mais ter estoque de asas no
paraíso, então colocou asas atrofiadas. Talvez até sabiamente para evitar que
saíssem voando em bandos por aí assustando as demais aves normais.
Outra
coisa que faltou foram dedos para os pés. Colocou apenas dois dedos em cada pé.
Sacanagem, Senhor!
Depois
olhou para sua obra e não sabia se era uma ave ou um camelo. Tanto é que logo
depois, Adão, dando os nomes a tudo que via pela frente, olhou para aquele ser
meio abominável e disse: Struthio camelus australis. Que é o nome oficial da
coisa. Acho que o struthio deve ser aquele pescoço fino em forma de salsicha.
Pois
um animal daquele tamanho deveria botar ovos proporcionais ao seu corpo. Outro
erro. É grande, mas nem tanto. E me explicava o criador que os avestruzes vivem
até os setenta anos e se reproduzem plenamente até os quarenta, entrando depois
na menopausa, não têm, portanto, TPM. Uma fêmea de avestruz com TPM é
perigosíssima!
Podem
gerar de dez a trinta crias por ano, expliquei ao garoto, filho da minha amiga.
Pois ele ficou mais animado ainda, imaginando aquele bando de avestruzes
correndo pela sala do apartamento.
Ele
insiste, quer que eu leve um avestruz para ele de avião, no domingo. Não sabia
mais o que fazer.
Foi
quando descobri que eles comem o que encontram pela frente, inclusive pedaços
de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos, por exemplo. Máquina digital de
fotografia, times inteiros de futebol de botão e, principalmente, chuteiras. E,
se descuidar, um mouse de vez em quando cai bem.
Parece
que convenci o garoto. Me telefonou e disse que troca o avestruz por cinco
gaivotas e um urubu.
Pedi
para a minha amiga levar o garoto num psicólogo. Afinal, tenho mais o que fazer
do que ser gigolô de avestruz.
PRATA,
Mário. Avestruz.
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